quinta-feira, 2 de julho de 2009

Poéticas de um desejante...

Hoje vi-me forçado a refletir sobre algo. É um algo indeterminado. Atemporal. Mas potente e atravessador. Assim, vou refletir sobre algo que não sei o que é mas tenho certeza que existe, tem nome e sobrenome e é potente. Mas, como dito anteriormente, não sei o que é.
Estranha contradição. Como podemos falar de algo que não sabemos o que é? Buscarei, desta forma, as essências que compõem este desejo de falar. ou melhor, escrever!
Penso sempre na vida como história. Importante sublinhar que não me refiro a constituição histórica mas a recortes de tempo que se produzem no devir. É na história que se efetua a vida (oposição ao vitalismo não-orgânico), os planos de organização de subjetividade, a produção de afetos e produção desejante, a cultura, os fenômenos físicos, as experiências, a dramatização, a produção de conceitos e tudo mais...Assim, para mim, como terapeuta ocupacional, a história, de vida, tem vital importãncia na busca por um sentido que dispare a jornada da existência.
Tenho muitas histórias. Diversas. Assim como toda humanidade. E assim como todos, tendemos valorizar mais uma que em detrimento de tantas outras. Vou fazer emergir uma. Que se referirá a um "algo". Um algo importante. revelador. Marcante. Extasiante e potente.
Em dada página da vida, fui conduzido a uma força desestabilizadora. Um afeto de intensidades. Uma rara paisagem de luz, cujo força habitou em minha interioridade. Uma experiência que me enobreceu. Me fez feliz de forma intermitente. Mas me fez triste também...
Por que a vida nos coloca diante de tantas ambivalências? Tantas escolhas...Escolhas que o tempo, o Cronos devorador, imperdoável, cobra-nos, mais cedo ou mais tarde. E pouco importa se te arrependes... E daí, porque escolheste este caminho?
Escolhi um e segui. Fui em frente. Passos vacilantes que indicavam um caminho sem volta. Ou quase sem volta. Neste caminho há pontos de fuga. Possibilidades de desvio. Uma rara e inequívoca possibilidade de viver o que não foi vivido. De sentir o que não foi sentido. De ter o que antes tinha se perdido.
Pobre fidalgo. Escolhas de sofia se abatem sobre ti. mas quem disse que me importo com isso? Sou Cronos, o devorador, e minha missão em seguir. É não parar. Aliás, Cazuza já cantara isso: "O tempo não para".
Quem não lembra o Romeu, de Shakespeare, entoar: "Amor, Sensata loucura, sufocante amargura, vivificante doçura".
Mas, ressurgi. Mesmo com os riscos dos pontos de fuga. Mesmo com o risco dos desvios, me arrisco. Para que esmorecer de novo? A vida é tênue e rara. É rápida. E o tempo a devora.
E se a existência não oferecer nova chance? E se o universo desistir de conspirar?
Será que vale o risco de arriscar? Desejo e assumo o risco.
Mas e o desejo, o que é?
Nunca desejo algo somente. Deleuze ensinou.
O desejo não é categoria psicológica mas sempre um motor cósmico de agenciamentos coletivos. Já viram a afirmação: eu desejo essa mulher? Isso é ilusório. Nunca desejamos só isso. A mulher isolada de seus afetos. De sua produção subjetiva. Modulando melhor a questão, poderíamos afirmar que o desejo não se dá sobre algo ou alguém mas sempre sobre um conjunto agenciado a um coletivo. Não desjeo só a mulher mas também sua cultura, sua inteligência, seus amigos, suas cores, suas roupas, sua dança, seu olhar, seu sorriso. O desejo é sempre um agenciamento coletivo.

Fico por aqui...

Até breve!

Julio