quarta-feira, 20 de julho de 2011

Escolhas?

Um fato novo me intriga. Construindo um encadeamento de pensamentos que ocupam o privilegiado lugar comum da intenção humana. Me acho inconcluso, previsível e pouco atraente.
Tomo um gole de vinho. Isso me inspira. Respiro, fundo. Ensaio outro gole. É vinho tinto. Seco e desce seco. Experimento a fisicalidade de seu potente, devastador e inesquecível aroma. É isso, muito aromático. Mexe, agora em meus sentidos, me permitindo, momentaneamente, visitar a desrazão. Me extasio e arrisco outro gole. E mais. Nossa, eu consigo voar!
E assim caminho. Ou será que estou voando. Não importa. A sensação é libertadora. Aliás, a bebida´, vivida com temperança, é libertadora. Com minha razão aniquilada com este golpe, vivo, agora, com a alma livre ultrajada pela sofreguidão etílica. É bom isso. Penso assim: Tenho o espírito livre para decidir minhas escolhas? Trilho na ilusão, inequívoca, que vivo o livre arbítrio. Não temos o livre arbítrio. Ilusão pura. Estou submetido aos limites do meu próprio corpo e estes limites não me permitem a experiência de voar. Não posso voar. Não posso estar em dois lugares. Jamais falarei em três línguas, simultaneamente. Sou livre? Claro que não.
A escolha, atributo cuja relação se encontra na temporalidade das coisas e do mundo, são minhas? Ou será que caminho, na procissão laica das escolhas massivas, submetidas pelos poderes da religião e da cultura? Queria ser extemporâneo e intempestivo. Livre!
Isso me corrói. Me destroça a intimidade. Sou visitado pela escravidão do tempo, do espaço, da linguagem, da cultura e do corpo.
Nietzsche, pensador das singularidades e que ocupa, em minha história de vida, um destacado lugar (sem a tendência messiânica) pensou nos valores que sequestram nossas escolhas.
Acho que permaneceremos aturdidos e habitados pela medíocre ilusão de sermos implicados por forças transcendentes, libertadoras, que se colocam acima e além de nós. Triste fim, Policarpo Quaresma.
Que angústia pensar a vida...